A Rover era um tradicional fabricante inglês que sempre ofereceu luxo e refinamento por um preço razoável, alguns modelos eram chamados de “poor man’s Rolls Royce” e a primeira ministra Margaret Thatcher sempre foi fiel ao Rover P5 durante o seu mandato. Depois de uma mal sucedida parceria com a Honda durante os anos 80 e 90, o fabricante inglês precisava urgentemente mudar a sua imagem e para isso ela precisava de um novo topo de linha, um carro que representasse essa mudança. O topo de linha anterior era o Rover 800, um sedã derivado do Honda Legend de 1985 sem a confiabilidade japonesa, mas com bancos bastante macios.
Esse novo topo de linha tão aguardado começou a ser desenvolvido em 1994, quando a BMW comprou o grupo Rover, que pertencia à British Aerospace desde que a British Leyland afundou. A intenção da Rover era fazer o melhor carro de tração dianteira do mundo e com o orçamento maior proporcionado pela BMW os engenheiros britânicos puderam desenvolver um carro do zero. Um dos pontos chave do projeto era a rigidez torcional, os engenheiros conseguiram fazer um monobloco bastante rígido, o que garantiu bons resultados em crash tests e um bom comportamento dinâmico, a suspensão era McPherson na dianteira e na traseira usava o eixo-Z criado pela BMW. Outra coisa herdada do fabricante da Baviera foi a parte elétrica.
Em 1998 depois de muitos atrasos o novo topo de linha da Rover foi apresentado, ele se chamava Rover 75, nome que já tinha sido usado pelo P4 nos anos 50, o novo 75 era um sedã executivo com linhas elegantes e alguns elementos retrô. Na mecânica não havia grandes novidades, os motores podia ser um 4 cilindros em linha de 1,8 ou um V6 de 2 ou 2,5 litros ou um 4 cilindros de 2 litros à diesel, os motores a gasolina eram projetos da Rover e o diesel era BMW, o cambio podia ser manual ou automático,ambos de 5 marchas. No interior o ambiente era inspirado nos modelos clássicos da marca, com muita madeira e couro, que contrastavam com o moderno sistema de entretenimento com rádio, GPS e TV da BMW, que podia ser facilmente atualizado para receber novas funções, como nos carros alemães. Segundo avaliações da época o rodar era confortável, porém bastante sólido e estável (lembram da alta rigidez torcional?), agradando em cheios os antigos compradores que foram afugentados pelos modelos derivados de Hondas.
Dois anos após o 75 ser lançado a Rover foi vendida pela BMW para a Phoenix Venture Holdings, nesse mesmo ano a Morris Garage (MG) passou a fazer parte do Rover Group. A MG passou a ser uma divisão esportiva da Rover, os carros tinham menos cromados, o interior usava revestimento mais claro, a madeira do painel geralmente era substituída por alumínio, as rodas eram maiores e as suspensões mais firmes, o irmão esportivo do nosso personagem principal era o MG ZT. 2000 foi um ano de muitas novidades na linha Rover 75, além de ganhar um modelo esportivo, o V6 de 2 litros foi substituído por uma versão turbinada do 4 cilindros de 1,8 litro e uma perua foi adicionada a linha, chamada de Rover 75 Tourer ou MG ZT-T.
Quando o SD1 parou de ser fabricado em 1986 a Rover nunca mais teve um sedã de tração traseira com motor V8, os engenheiros e os entusiastas da marca sempre quiseram que a Rover voltasse a ter um grande sedan com motor V8, mas isso não foi possível durante a pareceria com a Honda, pois o fabricante japonês não tinha uma plataforma de tração traseira para compartilhar com os britânicos e durante a época que a Rover pertenceu a BMW isso não era possível porque os alemães não queriam mais um concorrente para os seus carros. Mas durante a gerência a Phoenix Venture Holdings o plano de ter um voltou à tona entre os engenheiros e executivos da marca.
O carro escolhido para receber o V8 foi o MG ZT. O motor escolhido foi o V8 de 4,6 litros e 2 válvulas por cilindro do Ford Mustang, esse motor produzia 260 cv e 49,5 kgf·m de torque e a transmissão era a Tremec TR3650, também herdada do Mustang. A equipe de engenharia usou os poucos recursos financeiros que tinham para adaptar a plataforma de tração dianteira para ter tração traseira, o assoalho, as suspensões e o sistema de direção do carro foram reformulados, mas a carroceria e o interior continuaram iguais (parece que não sobrou dinheiro para as alterações cosméticas). O carro foi batizado como MG ZT 260 e só era possível diferenciar ele dos outros MG ZT por um emblema na tampa do porta-malas e pelas 2 ponteiras duplas de escapamento na traseira.
O MG ZT 260 foi apresentado no Salão de Genebra de 2002 e as vendas do sedã e da perua com motor V8 começaram no início de 2003, e o preço era £28.000, baixíssimo quando comparado com carros similares como o Jaguar S-Type 4.2 e o Audi S4. O desempenho foi muito elogiado pela imprensa especializada, o ZT 260 fazia de 0 a100 km/h em 6,3 segundos e a velocidade máxima era limitada em 250 km/h, o comportamento dinâmico também foi elogiado, principalmente a agilidade impressionante para um carro de 1680 kg, Shane O’ Donoghue do site Car Enthusiast disse que o ZT 260 comportava como um Honda S2000 maior e mais pesado.
Um pouco de dinheiro apareceu nos cofres do MG Rover Group e isso permitiu que fizessem um face-lift em toda a linha 2004 do grupo. Alem da cara nova o Rover 75 também passou a vir com motor V8 acoplado a uma transmissão automática de 5 marchas (que passou a ser oferecido como opcional no MG ZT 260), o Rover 75 V8 tinha uma pegada mais luxuosa e usava uma grade dianteira inspirada no P5B para diferenciar dos modelos de tração dianteira. Por dentro ele seguia o padrão dos outros 75, com muito couro e madeira, o sistema de som era de alta fidelidade da Harman Kardon. O Rover 75 V8 foi o tão aguardado retorno dos grandes sedãs da marca com motor V8, uma tradição iniciada em 1967 com o P5B e que durou até 1986, esses sedãs tiveram um público fiel que ia desde policiais, que apreciavam a força do motor de 3,5 litros, até membros da família real.
Mas como tudo que é bom dura pouco, o MG Rover Group foi comprado pelo fabricante chinês Nanjing Automobile e encerraram as vendas na Europa em 2005, o ferramental do Rover 75 de tração dianteira foi enviado para a China e desde então ele é fabricado e vendido lá, com apenas alguma alterações estéticas e a mesma mecânica, Os nossos heróis MG ZT 260 e Rover 75 V8 tiveram apenas 900 unidades fabricadas entre 2003 e 2005, que foram vendidas no Reino Unido, na Europa continental e na Austrália, marcando o fim de uma categoria tradicional dos carros britânicos.
E são carros bem raros, mesmo no Auto Trader só há 2.
http://www.autotrader.co.uk/search/used/cars/rover/75/postcode/w127tq/radius/1500/engine-size-cars/4l_to_4-9l/sort/default/onesearchad/used%2Cnearlynew%2Cnew
Muito interessante a história do MG ZT 260! Provavelmente, além redesenhar toda a transmissão, deve ter dado um trabalho danado pra fazer caber ali um V8. Além da necessidade de espaço físico, precisaria rever os pontos de apoio do motor – agora longitudinal – pois acredito que os ZT normais tinham motor e transeixo transversais.
Sim, o MG ZT comum tinha motor transversal
